Quando pensamos no termo Saúde Única, nos deparamos com o fato de que a saúde obrigatoriamente pertence a área da medicina. De fato, a história do desenvolvimento da saúde para humanos que tem como alicerce o combate a doenças, deu origem ao termo medicina única, no final do século XIX por Rudolf Virchow (1821-1902) e William Osler (1870). No século XX no pós-guerra, foi notável o desenvolvimento da saúde pública da Medicina Veterinária, nomes como James H.Steele (1947) contribuíram para isso e reivindicaram o merecido espaço para a conexão entre medicina humana e veterinária, desbancando o conceito de medicina única, porém ainda priorizando ações no combate a doenças. Ao mesmo tempo, que os conceitos e estudos de medicina humana e veterinária se desenvolviam, a zootecnia, surgia como ciência no Instituto de Versalhes, na França em 1848, baseada em ciência com pilares de melhoramento genético, nutrição, e adaptação das espécies e raças aos mais diversos ambientes criatórios, promovendo a criação de animais sadios. Saúde é um estado completo de bem-estar físico, mental e social, ou seja, a saúde é muito mais do que ausência de doença, de forma holística deve ser aplicada em todos os ramos e aspectos da vida. “Zootecnia é a ciência aplicada que estuda e aperfeiçoa os meios de promover a adaptação econômica do animal ao ambiente criatório e deste aquele” (Octávio Domingues, 1929-Patrono da Zootecnia no Brasil).

Dessa forma, muito antes do surgimento do conceito Saúde Única, a Zootecnia já atuava como promotora da integração entre saúde animal e ambiental. Atualizamos o conceito da Zootecnia, que congrega um conjunto de atividades e habilidades relacionadas ao desenvolvimento, à promoção e ao controle da produção e da produtividade dos animais úteis ao homem, ao aprimoramento e à aplicação de tecnologias de produção animal; à conservação e preservação das espécies e a sustentabilidade do meio ambiente, e que permitem ainda atuar no desenvolvimento das cadeias produtivas e do agronegócio. A zootecnia através de programas de preservação e material genético da população contribuem para manter a diversidade genética de animais de criação e domesticados e suas respectivas espécies selvagens, ações que vão de encontro com a ODS 2 (agricultura sustentável), um bom exemplo é o trabalho desenvolvido pelo INSA (Instituto Nacional do Semiárido) e Embrapa) com raças e ecótipos de cavalos e jumentos do Brasil.

O conceito de Saúde Única criado em 2008 e reconhecido por diversas organizações mundiais (ONU, OMS, OIE, FAO) propõe uma abordagem integrada da saúde humana, animal e ambiental, uma vez que essas três áreas estão profundamente interconectadas, quanto mais diversificada e interdisciplinar for a abordagem profissional, maiores são as chances de sucesso para o cumprimento dos objetivos da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável. A contribuição da zootecnia para a Saúde Única, pode ser reconhecida nos estudos e nas aplicações práticas para melhorar a produção, genética, nutrição, bem-estar dos animais, em especial, aqueles criados para a produção de alimentos. Boas práticas de manejo, nutrição e criação que impactam na saúde animal ajudam na prevenção e controle de zoonoses na produção animal com impacto direto na saúde humana. O zootecnista deve contribuir com a elaboração, orientação, pesquisa e condução de estudos de impacto ambiental relacionados a sistemas de produção animal O manejo sustentável, bem-estar animal e preservação ambiental com redução de impacto ambiental das atividades agropecuárias tem ganhado destaque nas grandes corporações da indústria da pecuária. Somos quase 10 bilhões de habitantes no planeta, até 2050 teremos que aumentar a produção de proteína animal no mínimo em 50%, sem destruirmos o planeta, ou comprometermos a segurança alimentar, e ainda temos que nos adaptar aos desafios das mudanças climáticas, que se fazem presente em nosso cotidiano, um exemplo disso, é a redução das emissões de gases, alvo de críticas por toda a sociedade científica e mídia, o lançamento de programas sustentáveis , como carne de carbono neutro e selos de certificação de bem-estar animal tem sido ações que vão de encontro ao desenvolvimento sustentável.

A pecuária é um dos agentes causadores da resistência antimicrobiana (AMR) com ação direta na saúde humana, devido ao uso indevido e excessivo de antibióticos na alimentação animal. Através de melhoramento genético, nutrição animal, boas práticas de manejo e bem-estar animal os zootecnistas contribuem para termos um animal saudável, alimentado com alternativas nutricionais sustentáveis que dispensam o uso sub terapêutico de antibióticos para promoção de crescimento animal, contribuindo para a redução da AMR.

Por último, gostaria de abordar a saúde mental, que é um dos temas mais discutidos na  atualidade e que é um exemplo de ações multidisciplinares propostos na saúde única, a terapia assistida com animais, por exemplo a equoterapia, tem a participação de  diversos profissionais  no eixo humano da  área de educação e saúde, num ambiente preferencialmente em contato com a natureza, com a participação direta de diferentes profissionais no eixo animal zootecnistas, biólogos , agrônomos e médicos-veterinários com habilitações em ciência da equitação e equoterapia contribuindo de forma multidisciplinar para saúde única.

Encerro esse texto com as palavras de Mery Echols (2010) “A saúde única pertence à humanidade e a importância de todas as iniciativas interdisciplinares”

O Juramento do Profissional zootecnista:

“Juro, no exercício da profissão de Zootecnista, atuar em favor do

aprimoramento das espécies de animais, da preservação dos recursos

naturais, da segurança alimentar, da sustentabilidade da produção animal,

do bem-estar da humanidade e dos animais.

Juro, realizar com ética e responsabilidade as funções profissionais para

todos, sem restrições, me dedicando integralmente ao trabalho com

competência e visão humanística.

Perante DEUS e os homens eu juro”.