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Pecuária sustentável: o futuro no pasto bem manejado

Solo, planta e gado: o tripé que sustenta o campo sustentável
Modern agriculture technology with a person using a laptop to analyze data on sustainable farming practices at sunset in a vineyard

Uma pecuária que protege o solo, alimenta melhor os animais, contribui para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e ainda melhora a vida de quem está no campo. Parece difícil? Mas não é. Com manejo adequado das pastagens e atuação técnica qualificada, esse modelo já está transformando o campo brasileiro e sendo reconhecido como instrumento poderoso de sustentabilidade ambiental, social e econômica.

“A pastagem bem manejada é uma verdadeira ferramenta de regeneração ambiental. Além de alimentar melhor os animais e antecipar o abate, reduz significativamente a emissão de metano”, explica o médico-veterinário e especialista em reprodução e produção de bovinos em sistemas silvipastoris, Mauroni Cangussu. Segundo ele, esse tipo de manejo também protege o solo da ação direta do sol e da chuva, favorece a microbiota e reduz a evapotranspiração. O resultado? Animais mais saudáveis, produtores com menores custos e consumidores com acesso a alimentos mais nutritivos e ambientalmente corretos.

 O tripé da sustentabilidade: solo, planta e gado

A base da pecuária orgânica e agroecológica está no equilíbrio entre solo, planta e gado. Esse tripé, quando bem gerenciado, sintonizado e trabalhado adequadamente resulta em sustentabilidade, que na pecuária se chama de “pecuária regenerativa”.

Mauroni Cangussu, ressalta: “O solo é um organismo vivo e precisa ser alimentado. A biomassa gerada pela fotossíntese, por exemplo, deve retornar a ele para manter sua fertilidade e nutrir a microbiota. Com um solo saudável, temos plantas vigorosas, e com plantas vigorosas, gado bem nutrido. O resultado final é um animal produtivo e um sistema sustentável”.

Essa abordagem integrada exige atenção aos detalhes e rejeita o uso excessivo de produtos químicos. É um verdadeiro convite à reconexão com os ciclos naturais da vida.

 Ciência e consciência: o papel dos profissionais do campo

A pecuária regenerativa não acontece por acaso. Ela é fruto de conhecimento técnico e visão de futuro. “Não se faz pecuária sustentável sem médicos-veterinários e zootecnistas capacitados. Eles são essenciais para enfrentar os desafios da produção agropecuária moderna”, afirma Cangussu.

Para ele, os profissionais precisam ir além das grades curriculares tradicionais e desenvolver uma visão holística, multidisciplinar e crítica. “É necessário que ter visão de futuro, focar nas próximas gerações, e ter conhecimentos globais”.

 Captura de carbono: solo que respira e regenera

A capacidade das pastagens bem manejadas de capturar carbono é um dos grandes trunfos da pecuária sustentável. Em modelos regenerativos, a pecuária não é emissora líquida de carbono, ao contrário, pode ser aliada no combate às mudanças climáticas, exceto em pastagens degradadas e com baixo nível tecnológico. No restante ela equilibra bem em modelos regenerativos, tem ganhos favoráveis ou positivos.

 Manejo adequado do solo na pecuária favorece a absorção de água

Em uma fazenda bem manejada, não é apenas o pasto que floresce, é a água que permanece. O ciclo hidrológico, muitas vezes esquecido no planejamento produtivo, começa no solo. E é justamente aí que entra a importância do manejo adequado.

Um solo vivo, coberto e rico em matéria orgânica funciona como uma esponja. Ele absorve mais água da chuva, reduz a erosão e permite que essa água infiltre lentamente, alimentando o lençol freático e garantindo o abastecimento dos aquíferos.

Ao contrário dos solos compactados ou expostos, que perdem água por escoamento superficial e evaporação, os solos bem manejados retêm umidade por mais tempo e criam um microclima favorável à biodiversidade e à produção animal. A adoção de práticas como o pastejo rotacionado, a cobertura vegetal permanente e o plantio de árvores em áreas de pastagem gera um efeito multiplicador.

As árvores também são aliadas fundamentais nesse processo. Em pastagens arborizadas, com cerca de vinte árvores por hectare, é possível reduzir em até 30% a evapotranspiração. Além disso, as folhas que caem ao solo, a serapilheira, se decompõem e aumentam a matéria orgânica, fundamental para a estrutura do solo.

“O impacto é expressivo: cada 1% a mais de matéria orgânica no solo, eleva a retenção de água em 224 mil litros de água por hectare ao ano. Isso não apenas favorece a recarga dos aquíferos e a proteção das nascentes, como assegura maior resiliência em períodos de seca”, explicou Mauroni Cangussu.

O manejo adequado do solo é uma forma silenciosa, mas poderosa, de cuidar da água. Na pecuária regenerativa, solo e água caminham juntos. Quando essa conexão é respeitada, o resultado vai além da produtividade: representa a construção de um futuro mais sustentável.

 
Inovação com raízes profundas

A atuação integrada entre médicos-veterinários e zootecnistas têm impulsionado inovações. Práticas como o pastejo rotacionado, o plantio de forrageiras adaptadas e o uso de árvores como aliadas têm elevado a produtividade e a qualidade dos alimentos.

“São centenas de exemplos de sucesso. O que falta, muitas vezes, é dar visibilidade a essas experiências, estimular a troca de conhecimento e incluir esse novo olhar nas universidades e nos programas de extensão rural”, destaca Mauroni.


Um chamado às novas gerações

Apesar dos avanços, ainda existe resistência. A pecuária regenerativa, por outro lado, foca na longevidade e na sustentabilidade dos sistemas produtivos.

 “Cerca de 70% da pecuária brasileira ainda é extrativa, baseada em modelos que apenas exploram os recursos naturais”. Temos cerca de 60 milhões de hectares com pastagens degradadas”, ressaltou o médico-veterinário Mauroni.

Para que esse modelo se consolide, é preciso investir em formação, mobilização e políticas públicas. Além de investir em conhecimento, antes de tudo. É necessário ainda, alinhar as universidades à nova realidade, apoiar a agricultura familiar e democratizar a informação.

O futuro da pecuária brasileira está sendo construído agora. E médicos-veterinários e zootecnistas estão no centro dessa transformação. “As gerações futuras precisam de nós hoje. A mudança começa com o manejo do pasto, mas termina com o cuidado com a vida”, finaliza Mauroni Cangussu.

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