
Por Renata Teixeira e Leo Barsan
Brasília, 10 de outubro de 2024 – Eu, Renata Teixeira e meu parceiro de jornalismo, Leo Barsan, saímos rumo à Minas Gerais, mais especificamente para uma fazenda em Betim, para registrar uma simulação da atuação dos profissionais em um cenário de desastres em massa. Durante dois dias vivemos uma experiência que mudou a nossa forma de enxergar não apenas o trabalho de campo, mas o papel transformador de duas profissões que, muitas vezes, não são identificadas logo no primeiro momento em uma situação de desastres: a Medicina Veterinária e a Zootecnia.
Fomos até lá para captar imagens e entrevistas para o documentário: “Desastres – a linha de frente”, uma produção que busca revelar ao Brasil e ao mundo o trabalho técnico, humano e essencial desses profissionais em situações de calamidade pública. Mas o que encontramos superou qualquer expectativa: não registramos apenas um treinamento, um Simpósio. Participamos dele.
A jornada iniciou com um contratempo que já nos colocou no clima da missão. Nosso colchão foi extraviado no aeroporto, e as chuvas intensas nos impediram de chegar à fazenda no primeiro dia. Tivemos que pernoitar numa cidade próxima. Parecia um aviso do que nos aguardava: obstáculos inesperados, logística desafiadora e, ainda assim, a necessidade de seguir.
Chegamos à fazenda onde acontecia o VI Simpósio Internacional de Medicina Veterinária de Desastres no segundo dia, e imediatamente fomos integrados ao ambiente. Acampamos junto aos participantes, dormimos em barracas, e nos adaptamos às regras do treinamento: banhos de cinco minutos, horários certos para as refeições e deslocamentos pelas trilhas do local.
As equipes eram divididas com nomes táticos como Alfa, Bravo e Delta, espelhando a estrutura real de operações de resgate. Tudo era planejado para simular o mais fiel dos protocolos de resposta a um desastre natural. E tudo funcionava perfeitamente. A disciplina, o entrosamento e o preparo físico e emocional dos participantes impressionavam.


Ao longo dos dias, registramos resgates simulados de animais de pequeno, médio e grande porte, técnicas de manejo e salvamento, cuidados emergenciais e transporte seguro. O treinamento prático era duro, exigente, mas era justamente aí que víamos acontecer o verdadeiro propósito do evento: formar profissionais capazes de intervir com eficiência e empatia diante do caos.
E ali, de dentro das lentes e dos nossos olhos atentos, nos tornamos testemunhas de algo único: um encontro entre técnica e sensibilidade. Esses profissionais não estavam apenas salvando vidas animais — eles estavam reconstruindo laços, devolvendo esperança e aprendendo a acolher a todos. Em uma enchente, em um incêndio florestal, em um rompimento de barragem, a presença de um profissional preparado pode representar a diferença para salvar vidas.
Vimos médicos-veterinários atentos em simulações de trauma em cavalos, resgate de cães em áreas alagadas, e protocolos para atendimento a animais silvestres em risco. Tudo com extrema seriedade e precisão. Vimos acima de tudo, o brilho nos olhos de quem escolheu estar ali. Havia cansaço, claro. Havia calor, barulho, chuva, desconforto. Mas tinha também muito entusiasmo. Um sentimento de missão a ser cumprida. E esse talvez tenha sido o nosso maior aprendizado.
Nos intervalos das filmagens, conversamos com os participantes. A maioria nos relatava que estar ali não era apenas um aprimoramento técnico, era um compromisso com a sociedade. Porque cuidar dos animais em um cenário de desastres é também cuidar das pessoas, da saúde pública, do meio ambiente do ecossistema como um todo.
O Simpósio, teve ainda a participação de toda a Comissão Nacional de Desastres em Massa Envolvendo Animais do CFMV, o que revelou o esforço institucional para preparar o país para um futuro que, infelizmente, tende a ser cada vez mais marcado por emergências climáticas. E esses médicos-veterinários e zootecnistas, muitas vezes invisíveis, estarão lá, como já estiveram em Brumadinho, Petrópolis, no Pantanal e tantos outros cenários de destruição.
Tivemos o privilégio de documentar de perto uma das frentes, do cuidado com a vida. Nosso compromisso, agora, é fazer com que essa história chegue o mais longe possível.
Quando falamos em desastres em massa, não estamos falando apenas de perdas. Estamos falando também dos que permanecem. Dos que agem. Dos que cuidam. E eles merecem ser vistos. Toda vida é importante!
Assista agora ao teaser do documentário que será lançado em breve nos canais de comunicação do CFMV.