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“Não se faz omelete sem quebrar os ovos” — e o ditado nunca fez tanto sentido diante da disparada no preço dos ovos no Brasil no início de 2025. A crise é resultado de uma combinação de fatores climáticos, econômicos e sanitários, exigindo soluções estruturais. Investir em pesquisa para linhagens de galinhas mais resistentes ao calor, diversificar as fontes de ração, modernizar a infraestrutura das granjas e evitar a especulação são medidas essenciais para reduzir a volatilidade dos preços e garantir a estabilidade do setor. 

O aprimoramento do controle ambiental nas granjas, por meio de sistemas de climatização, ventilação e automação, pode minimizar perdas na produção causadas pelo estresse térmico das aves. Além disso, o incentivo ao uso de fontes alternativas na alimentação das poedeiras – como farelo de insetos e algas – pode reduzir a dependência do milho e da soja, cujos preços têm sido fortemente impactados por crises globais.

 No âmbito governamental, políticas de incentivo, como linhas de crédito subsidiadas para produtores, podem facilitar a adoção de tecnologias sustentáveis e reduzir custos operacionais. Ao mesmo tempo, medidas que aumentem a transparência na formação dos preços, incluindo rastreabilidade da produção e combate à especulação, podem evitar aumentos excessivos e injustificados para os consumidores. 

Também é essencial investir na ampliação da produção interna para equilibrar a oferta e a demanda, incentivando novos produtores e fortalecendo as cadeias produtivas regionais. Isso pode ser feito por meio de programas de capacitação e suporte técnico, garantindo que pequenos e médios avicultores tenham condições de expandir seus negócios e aumentar a oferta de ovos no mercado. 

Essas soluções se tornam ainda mais urgentes quando analisamos os fatores que levaram à alta histórica no preço dos ovos neste início de ano. 

O aumento do preço dos ovos em 2025 é resultado de uma combinação de fatores climáticos, econômicos e sanitários. O calor extremo registrado nos primeiros meses do ano afetou diretamente a produção, reduzindo a postura das aves em até 25%, segundo estudos da Embrapa Suínos e Aves. O estresse térmico compromete o metabolismo das galinhas, diminuindo a absorção de cálcio e, consequentemente, a qualidade da casca dos ovos. 

Paralelamente, o custo dos insumos para a alimentação das aves disparou. O milho, principal componente da ração, teve alta de até 40%, impulsionada pela seca no Centro-Oeste brasileiro e pela guerra na Ucrânia, um dos maiores exportadores do grão. O aumento no preço dos combustíveis também pressionou os custos de transporte, encarecendo ainda mais o produto final. 

Outro fator relevante foi o aumento das exportações brasileiras de ovos, que cresceram 57% em comparação ao mesmo período de 2024, de acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). A demanda internacional elevada, aliada à procura sazonal no mercado interno durante a quaresma, criou um desequilíbrio entre oferta e demanda, contribuindo para os reajustes sucessivos nos preços. 

A crise da gripe aviária em diversos países também afetou a disponibilidade global de ovos. Nos Estados Unidos, milhões de aves foram abatidas para conter surtos da doença, reduzindo a oferta e elevando os preços no mercado internacional. Com essa lacuna, o Brasil ampliou suas exportações, mas isso resultou em menor disponibilidade de ovos para o consumidor nacional. 

O impacto dessa alta não passou despercebido. Nas redes sociais, o tema dominou debates e gerou memes, enquanto especialistas em finanças pessoais orientaram sobre como economizar na compra de alimentos. O próprio governo entrou na discussão, considerando até a possibilidade de importar ovos de países vizinhos como Argentina e Uruguai, uma medida que gerou críticas do setor avícola nacional por possíveis riscos sanitários.

 O cenário também afetou estabelecimentos do setor de alimentação, como padarias, confeitarias e restaurantes, que dependem diretamente dos ovos como insumo essencial para a produção. Muitos empresários precisaram reajustar preços de produtos ou buscar alternativas, como a substituição parcial por ingredientes similares, para minimizar impactos no bolso dos consumidores.

Diante desse cenário complexo, fica claro que a crise do ovo não se resolve com voo de galinha. A solução passa por ações estruturais, que envolvem desde a inovação tecnológica até políticas eficazes, capazes de fortalecer o setor e garantir a estabilidade dos preços. De nada adianta soluções superficiais ou temporárias quando o que se exige é um planejamento de longo prazo e uma abordagem mais robusta. O Brasil tem todas as condições para superar essa crise, mas, para isso, é preciso deixar de lado as medidas improvisadas e investir em estratégias que promovam um setor avícola mais resiliente e sustentável.

 

Rodrigo Garófallo Garcia. Mestre e doutor em Zootecnia, professor titular da Faculdade de Ciências Agrárias da UFGD, conselheiro do CRMV-MS e integrante da Comissão Nacional de Educação em Zootecnia, do CFMV

Rafael Noriller. Contador e professor da Faculdade de Ciências Contábeis e Econômicas da UFGD

Jean Kaique Valentim. Mestre e doutor em Zootecnia com ênfase em avicultura e pós-doutorando do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa

 

 

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