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Desafios e Estratégias no Combate à Resistência Antimicrobiana na Clínica Veterinária: impactos na saúde animal e humana

Entenda por que a resistência antimicrobiana é um dos desafios mais críticos da Medicina Veterinária, com implicações tanto na saúde humana quanto animal.

A resistência antimicrobiana é um dos desafios mais críticos da Medicina Veterinária, com implicações tanto na saúde humana quanto animal. Na clínica veterinária, tem se tornado uma preocupação crescente, devido ao uso extensivo de antibióticos em animais de companhia. Este fenômeno ocorre quando as bactérias desenvolvem mecanismos que as tornam insensíveis aos antimicrobianos, prejudicando o tratamento nos animais. Isto não só compromete a eficácia dos tratamentos como também representa uma ameaça global à saúde pública e ao bem-estar animal.

Qual a relação da resistência antimicrobiana entre humanos e animais? 

No contexto de Saúde Única não existe saúde humana sem pensar na saúde animal ou ambiental. Assim sendo, o médico veterinário deve estar sempre atento ao ambiente do seu paciente. Já se sabe que existe compartilhamento de bactérias multirresistentes entre humanos e animais, especialmente onde há contato próximo, como animais de companhia criados como pets dentro dos lares. Este conhecimento auxilia o clínico a pensar no melhor tratamento a ser estabelecido, onde o uso racional de antimicrobianos e outros tratamentos podem significar o sucesso e a recuperação do paciente.

Causas da resistência antimicrobiana na clínica veterinária

 O uso inadequado de antimicrobianos em animais é o principal fator que contribui para o desenvolvimento da resistência. Muitas vezes, os antibióticos são administrados de forma profilática erroneamente, o que aumenta a pressão seletiva sobre as populações bacterianas, favorecendo a emergência de cepas resistentes. Além disso, a prática comum de uso empírico aumenta a exposição aos antimicrobianos e a disseminação de bactérias resistentes.

A falta de regulamentação adequada facilita o uso indiscriminado desses medicamentos. Antimicrobianos podem ser adquiridos sem prescrição veterinária, o que contribui para sua utilização inadequada. No Brasil, não existe obrigatoriedade da prescrição para antibióticos veterinários, o que facilita a venda descontrolada. A prescrição correta é de grande importância, pois estes medicamentos foram desenvolvidos para a fisiologia dos animais. O uso de medicamentos humanos tem sido justificado pelo menor valor pago, mas deve-se ter em mente que o uso racional de antimicrobianos começa com a indicação correta dos mesmos. A retenção da receita veterinária se faz urgente para que possa ter maior controle na venda. Uma iniciativa está em discussão tanto no Conselho Federal de Medicina Veterinária quanto no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), mas uma mudança de comportamento dos médicos-veterinários impulsionaria a uma discussão mais apropriada e colocaria maior consciência do uso racional de antimicrobianos para os tutores.

Consequências da resistência antimicrobiana
 

A resistência antimicrobiana dificulta o tratamento de infecções bacterianas, resultando em maior morbidade, mortalidade e custos veterinários. Na prática clínica significa maior tempo de internamento em alguns casos, além de trocas constantes de prescrições. Muitas vezes o tratamento com antimicrobianos é feito em domicilio pelo tutor e o médico-veterinário precisa orientar o mesmo para que realize a dosagem e o tempo de tratamento corretamente. Alguns medicamentos são prescritos por via oral, visto que seria teoricamente mais fácil para que o tutor forneça ao seu animal. Mas se o tutor não dá o comprimido de maneira adequada, o animal pode expelir e não ter a quantidade suficiente de medicamento em seu organismo, prejudicando o tratamento. O clínico deve entender a  importância de orientar o tutor de forma clara e objetiva para que ele entenda que também faz parte do processo de sucesso do tratamento.

Várias bactérias de grande impacto na saúde humana têm sido diagnosticadas em pets, mostrando a importância de vigilância em saúde única. Uma prática comum é a prescrição de antimicrobianos de uso humano para animais. Sabe-se da condição de que estes medicamentos têm valor mais baixo do que os antimicrobianos veterinários. Porém a eficácia de medicamentos humanos usados em animais não é a mesma. O clínico veterinário deve prescrever corretamente estes antimicrobianos de uso veterinário para que o paciente tenha a segurança de um medicamento que foi desenvolvido para a espécie animal indicada.

Estratégias de controle para diminuir a resistência antimicrobiana

Uma das principais estratégias é promover o uso racional de antimicrobianos na Medicina Veterinária. Isso inclui a adoção de políticas mais rígidas para a prescrição de antibióticos, o uso de testes microbiológicos para orientar o tratamento e a implementação de práticas que reduzam a necessidade de antimicrobianos. Uma legislação para retenção obrigatória da receita para compra de antimicrobianos veterinários se faz urgente e necessária para que a venda possa ser controlada.

Poucas novas classes de antibióticos foram descobertas e o desenvolvimento é limitado. Estamos caminhando para uma era pós-antibióticos em que as infecções comuns se tornam intratáveis. Há uma necessidade de novos antibióticos e novas abordagens ao tratamento. O desenvolvimento de alternativas aos antimicrobianos, como vacinas,  probióticos e fitoterápicos pode ajudar a reduzir a dependência de antibióticos em animais

A vigilância da resistência antimicrobiana em animais é essencial para entender a extensão do problema. Programas de monitoramento específicos para a Medicina Veterinária são fundamentais para o rastreamento da resistência e o desenvolvimento de políticas de controle. Um monitoramento de isolados resistentes encontrados em pets pode servir como fonte de consulta para os clínicos veterinários entenderem como está a distribuição epidemiológica e auxiliar na tomada de decisão para o melhor tratamento.

Orientar médicos-veterinários, zootecnistas, tutores e o público em geral sobre o uso indiscriminado de antimicrobianos é fundamental. Campanhas de conscientização podem ajudar a promover uma mudança de comportamento e apoiar a implementação de boas práticas. Para os clínicos de pequenos animais o apoio laboratorial é de suma importância para a realização de um diagnóstico microbiológico. Estes laboratórios devem estar embasados em referências nacionais e internacionais para promover um laudo com qualidade. 

Desafios e perspectivas futuras 

A luta contra a resistência antimicrobiana na Medicina Veterinária enfrenta vários desafios. Além disso, é um problema complexo que requer uma abordagem integrada e multidisciplinar, envolvendo também a saúde pública, a agricultura e o meio ambiente. A pesquisa contínua e o desenvolvimento de novas estratégias para prevenir e controlar a resistência antimicrobiana serão cruciais para enfrentar este desafio global.

A resistência antimicrobiana na Medicina Veterinária é uma preocupação crescente que requer atenção imediata e ações coordenadas. A combinação de regulamentações mais rigorosas, o uso racional de antimicrobianos, o desenvolvimento de alternativas terapêuticas, o monitoramento contínuo e a educação continuada dos profissionais são componentes-chave de uma estratégia eficaz para combatê-la. Os laboratórios veterinários que realizam exames microbiológicos devem estar sempre atualizados para ajudar os clínicos na melhor decisão no caso de pacientes acometidos com cepas resistentes. Enviar uma amostra adequada, realizar o exame conforme a metodologia apropriada e contar com profissionais treinados são os pilares para a construção de um bom relacionamento entre os clínicos e os laboratoristas. Somente um esforço conjunto e integrado será possível mitigar os efeitos da resistência antimicrobiana.

Fonte: Elevagro.com
Fonte: Elevagro.com
Fonte: Opas
Fonte: Opas
Fonte: Elevagro.com
Fonte: Elevagro.com
Fonte: Opas
Fonte: Opas

Luciana Sartori

CRMV-SP 46172
Médica-Veterinária
Doutora em Ciências Farmacêuticas – USP | Mestre em Sanidade Animal – UEL
Área de atuação: Infectologia, doenças infecciosas, microbiologia clínica, patologia clínica, laboratório clínico.
luciana sartori

Luciana Sartori

CRMV-SP 46172

Médica-veterinária
Doutora em Ciências Farmacêuticas – USP | Mestre em Sanidade Animal – UEL
Área de atuação: Infectologia, doenças infecciosas, microbiologia clínica, patologia clínica, laboratório clínico.

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